domingo, 25 de maio de 2014

Será furúnculo ou "berne"?


Vocês já ouviram falar desse bichinho aí de cima?

Ele é popularmente chamado de "berne".

Essa criatura é uma larva de mosca (varejeira ou tumbu) que pode penetrar na pele e causar uma lesão parecida com furúnculo.

É comum em quem frequenta sítios, fazendas ou visita áreas próximas a pasto.

Existem duas teorias para a penetração dessa larva na pele. Uma, é que a mosca deposita seus ovos no mosquito e esse, ao picar a pele, favorece que a larva penetre na pele humana. Nesses casos, as lesões são em áreas expostas a picadas, inclusive no couro cabeludo. A outra teoria, é que a mosca deposita seus ovos nas roupas estendidas no varal ou na areia. Ao vestir essas roupas ou deitar na areia, a larva entra em contato com a pele e penetra, causando lesões em áreas cobertas.

A larva vai se desenvolvendo dentro da pele humana por várias semanas (5-10 semanas), gera uma resposta inflamatória do organismo, formando um nódulo ("caroço") avermelhado, com um orifício central, por onde a larva respira e mina uma "águinha". Essa lesão é parecida com o furúnculo. Após esse período, a larva sai da pele e inicia no solo a próxima fase de desenvolvimento até virar a mosca adulta. Antes de estudar essa doença, imaginava que a larva se transformava em mosca na pele e dela saía voando, mas não é assim! :)

O tratamento é cirúrgico. Aplica-se anestesia e se retira a larva com uma pinça. Exitem relatos de ocluir o orifício com um toucinho ou bacon, o que faria a larva sair em busca de respirar. Mas nunca recomendei esse tratamento. :) Também pode ser usado um medicamento, tomado por via oral.

Algumas vezes avaliei pacientes vistos por outros colegas, que prescreveram antibiótico pensando em furúnculo, mas na verdade a alteração na pele era causada pela larva, ou "berne". O s antibióticos são indicados em caso de infecção secundária na pele com a larva.

Portanto, fiquem atentos! Caso façam um passeio rural e notem dias depois uma lesão parecida com furúnculo, consulte um dermatologista para ter o diagnóstico correto.

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domingo, 4 de maio de 2014

O que aprendi no Hospital da Escola de Medicina de Yale


Olá, queridos pacientes!

Estou de volta! Até que enfim, né?! 

O mês de Abril no Hospital da Escola de Medicina de Yale foi bem interessante! Voltei a ser estudante! :)

Fui muito bem recebida pela equipe da Dermatologia de lá. Tive contato com  grandes nomes da Dermatologia americana, como a Dra Jean Bolognia - autora de um dos livros mais importantes na nossa área, o Dr Richard Edelson e o Dr Michael Girardi - pesquisadores importantes na área de linfomas cutâneos, e a Dra Jennifer Choi - a qual tive o prazer de acompanhar e aprender mais sobre câncer de pele e as reações dos quimioterápicos na pele, entre outros profissionais brilhantes. 

Foi um desafio deixar o conforto da nossa casa, da nossa língua e se lançar em um novo ambiente. Sempre desejei ter essa experiência nos Estados Unidos. Abracei essa oportunidade com entusiasmo e voltei muito feliz pelo que vivi por lá.

Uma coisa que vi e achei muito interessante é o Total Body Skin Exam - TBSE - que quer dizer Exame Total da Pele. A Dra Jennifer Choi orienta seus pacientes a agendar uma consulta exclusiva para esse exame. O paciente fica apenas de calcinha ou cueca, com um avental, e sua pele é examinada por ela da cabeça aos pés, incluindo a boca e região genital. As lesões suspeitas de câncer de pele são examinadas com a ajuda de uma lente de aumento, o dermatoscópio, e são retiradas no mesmo dia, quando possível, ou em outro momento. Quero instituir o dia do TBSE para meus pacientes! Numa só consulta às vezes é difícil fazer o TBSE e checar todas as outras (sete ou mais :) ) queixas da "listinha"... Então, vamos programar uma consulta só para isso! E a frequência do TBSE vai depender da história pessoal ou familiar de câncer de pele, podendo ser a cada 4 ou 6 meses, ou a cada ano.

Outra coisa que percebi é o quanto eles dão valor à pesquisa. Eles estudam muuuuuito! Aquele detalhe que no livro a gente nem dá importância, tem algum pesquisador de lá estudando. Semanalmente, eles tem encontros científicos sobre os diversos temas em pesquisa na área de Dermatologia. É impressionante! Temos muito a desenvolver no campo de pesquisa no nosso Brasil. 

Vi casos dermatológicos interessantes de pacientes internados e nos consultórios. Pude revisar temas da Dermatologia junto aos esforçados residentes. Tive contato com pacientes com reações cutâneas aos quimioterápicos, meu objeto de estudo, e fiquei surpresa! Como existem drogas novas nessa área! Algumas ainda em estudo, e outras que lá eles já estão usando, mas que no Brasil ainda não está disponível.

Voltei muito empolgada para por em prática o que aprendi lá e continuar minha pesquisa na Oncodermatologia.



Obrigada, Yale!